16 outubro 2009

Saborosos Sonhos da Padaria

Os roncos dos motores ecoavam forte na minha cabeça. Durante a corrida, visitando o box de um velho amigo que acompanhava apaixonadamente a disputa do filho, eu assistia ao desempenho dos pilotos e suas máquinas, uma relação quase simbiótica para a vitória. Minha irmã ao meu lado tapava os ouvidos a cada passada dos autos. Duas moças da minha idade entraram sorrindo e de óculos escuros, bem vestidas, com o frescor que apenas aqueles vinte e poucos anos traziam. Ambas traziam um brilho loiro nos cabelos, que refletiam o sol daquele dia no autódromo. Minha irmã conhecia uma delas, se abraçaram, riram e foram colocar os assuntos em dia; a outra se manteve ali, sozinha, com um misto de costume e estranheza. Cheguei perto e disse: "Ainda não sei seu nome" e ela: "Natalia". Sorri, e comentei que não iria esquecer, minha irmã que acabara de sair também assim se chamava. Perguntei: "E você? Espera por alguém?". Ela sorriu e respondeu de maneira simples: "Sim, meu marido". Surpresa! Ele já voltara, e da pista! O filho do meu amigo a abraçou ternamente e a beijou. Após algum tempo minha irmã retorna com a amiga; ficamos os 4 conversando... O tempo passa, e nós esperando o fim da arrumação dos boxes até que nos cansamos e sugiro sairmos dali. O imponente piloto ficaria para últimos acertos. Pegamos o carro, andamos um tanto, estacionamos e passamos a seguir pelas calçadas do entardecer, já frias com a mudança do tempo. Papos sem propósito nos envolvem, até que sinto o cheiro quente de pão novo e alcanço com os olhos uma padaria clássica, aos moldes das grandes confeitarias de outrora. O vapor emanado pela pequena loja de balcão alto, repleta de pessoas buscando um pouco de calor recém-tirado do forno e as luzes amarelas faziam uma cena de filme; quase um retrato da felicidade presente nas pequenas, antigas e belas coisas da vida. Aquele cheiro na rua... pão quente! E mais: açucarado... Pelo jeito acabou de sair o pão-doce! Segurei a nova Natália por uma das mãos e falei "Vem comigo!". Minha irmã e a amiga também vieram e se encantaram com a cena vista por dentro. Pessoas com grandes casacos tomavam chocolate quente sorrindo como crianças. Os pães rodavam o salão com seus odores ternos de inverno. Padeiros e boleiras sorridentes atendiam no balcão como quem quisesse trazer felicidade às pessoas que buscavam um calor para suas almas naquele frio fim de tarde. Alcancei um dos pães, provei, fascinado pelo sabor da infância e servi às meninas. Não só esse, outro. E outro. Pães doces diferentes, de diversos recheios e coberturas. O brilho presente naqueles olhos claros sob os finos cabelos loiros me nutria tanto quanto o pão quente e doce que me tocava os lábios. Observava a tudo desejando que aquilo durasse por muito tempo ainda...
Meu celular tocou. Meus olhos se abriram com dificuldade. Do outro lado, Roberta Karen me questionava o motivo da ligação mais cedo. Respondi com a voz rouca que só o sono nos provê. Tentava colocar os pensamentos em ordem... Respirei fundo, saquei os óculos da lateral da cama, os coloquei sobre os olhos e respondi à amiga que me buscava no telefone durante o sono da tarde... Da cena ficaram o calor, os cheiros, os brilhos e os sorrisos... Sorri de maneira sem graça e me levantei... já era quase hora de buscar minha sobrinha no colégio...
Caro leitor, não se furte a viver o que aparentemente não é possível. Muitas vezes, momentos virtuais são tão prazerosos quanto os reais...
A felicidade é sempre verdadeira, seja decorrente do que se passa ou do que poderia se passar... Pense nisso, Reflita Também...

2 comentários:

Unknown disse...

=)))) E o "Roberta Karen" ainda dá todo um estilo mais que especial a narrativa, né não?!
POxa... te impedi de conduzi-la ao adultério! =P Pensamentos e sonhos também são formas de traição?! Pense nisso, Reflita também... caro amigo! Huahauhauha

Bjksssssss

Anônimo disse...

Tocante...

Vc existe mesmo?

Estou ficando apaixonada com cada texto que leio...

Ana.