18 julho 2008

Musicalis 5

Há muito não deixo belos versos de poetas/músicos aqui para vocês. Percebendo isso, vos brindo com uma das mais fascinantes letras da música brasileira:

O que será (À flor da pele) - Chico Buarque

O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores que vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo

------O que será isso leitor? Você já experimentou?

Pois lhe digo: não caia na tentação de provar algo que vicia, sem que tenha a certeza de que o fator adicto nunca lhe será negado... Caso contrário, passará também pela falta, a crise e a abstinência a que muitos são dispostos por se aventurarem a buscar o complemento supressor de suas ânsias.
Pense nisso, Reflita Também...

16 julho 2008

O certo e o errado

Contam que numa antiga vila cravada no meio de uma cadeia de montanhas, um jovem artesão vivia cheio de trabalho e pouco parava para pensar em si mesmo. Estava sempre a servir os outros, e parar de trabalhar lhe parecia um desrespeito com o grande número de apreciadores de sua arte, que adornava desde casas simples na vila quanto palácios fora dos limites dos olhos locais. Um dia, entretanto, procurando novos materiais com que pudesse trabalhar, o artesão, passeando por uma feira numa outra cidade, descobriu um tipo de cristal que nunca havia visto... Já muito haviam lhe falado sobre a matéria-prima, mas só vendo por si mesmo o artesão pôde perceber seu valor. Estava deslumbrado, ansioso por ter pra si aquela maravilha e poder não só moldá-la mas também admirar mesmo a beleza bruta do translúcido cristal.
O dono do vítreo material, um mercador viajante, porém, recusou-se a vender o material. Ao perceber o interesse do artesão, cujos olhos brilhavam frente ao cristal, percebeu o valor deste e disse que nunca fora de seu interesse vender, que desejava apenas fazer uma exposição. E chamando a atenção do artesão, ofereceu-lhe um outro cristal. Não pensem que este era de menor qualidade! Era tão fino e tão belo quanto o primeiro, de cor ligeiramente diferente, e também seria um primor em ser trabalhado, mas deste o artesão nada sabia, e tivera pouco tempo de avaliar, pois de pronto, o mercador escondeu ambos os cristais. O jovem artesão pensou por um momento, e por mais um, e outro... e assim perdeu dias tentando resolver o problema. Aceitaria o segundo cristal, belo como o primeiro, de negociação mais fácil mas sem conhecimento prévio, passando por cima de seu primeiro ímpeto, ou esperaria o invejoso mercador cansar-se do primeiro cristal, liberando-o para a venda, quem sabe depois de demasiado e desgastante tempo, o qual poderia ter trabalhado perfeitamente com o segundo?

Adianto, caro leitor, que não há resposta para tal questão. Um dado importante e, diria eu, até intrigante na vivência humana é que não é tudo que se resume à máxima do certo e do errado.
Como fazer a melhor das escolhas? Não se sabe... ainda mais quando o padrão de correto e incorreto não se aplica... E acredite, esta situação é muito mais freqüente do que imaginamos.
Pense nisso... Reflita também...

05 julho 2008

Desafio Machadiano

Não sei se dormia, mas real que parecia, uma bela fada de alas róseas me veio em sonho. Batia asas, soltando "porpurina" sobre este autor. enquanto lhe sorria, e sorrindo sussurrava: "Serás capaz de cumprir o desafio que lhe proponho?"
Como pudera negar? Encantado que estivera com os olhos luminosos, e o bailar por entre as nuvens, permiti apenas concordar embalando a cabeça. "Escrevais, cavalheiro, e mostrais que podeis terminar os versos que deixei soltos..."
Tento, pois, atender aos desejos do anjo que me fora enviado:


Oh! flor do céu! oh! flor cândida e pura!
Usai mil cores para adornar mundos,
Faz do céu, cerúleo, tua moldura;
Dá vida a meus lívidos segundos.

Olhai pro teu servo, amante teu
Que encantado, sim, observa a ti
E pensa só, em sonhos de Morfeu,
Sem empecilhos, por fim ter-te pra si.

E mui tanto eu daria para tal:
Cuore, vita... meu tudo, afinal!
Sem tu, Oh! flor, resta minha mortalha.

Lutar, é justo, por donzela-flor,
Doar-me pra merecer teu amor...
Perde-se a vida, ganha-se a batalha!



Como já diziam os Parnasianos, "poesia é tão feita de transpiração quanto de inspiração"...
Deu trabalho, mas espero que a resposta do Desafio esteja aos pés da principesa.
Abraços fortes meus caros, e lembrem-se:
Reflitam também!

04 julho 2008

Quero mais tempestades...

Sempre fui fascinado pela chuva. Desde criança o cheiro de terra molhada me atraía, o visual da torrente minando do céu era incrível. E o melhor de tudo, a fúria da natureza, como que lavasse a insignificância humana sob si, trazia pra mim inspiração sem igual. Era sentir o primeiro vendo diferente, o ar úmido e possivelmente um trovão que, magicamente, eu era capaz de expor melhor o que pensava e, igualmente, pensava melhor também.

Ontem à noite, ao me deitar, senti a perturbação da calmaria lá fora. A brisa cresceu, tornou-se um sopro forte, que zunia por entre as frestas das janelas. Cortinas abertas permitiam que a luz, imediatamente acompanhada de um som expressivo, adentrasse meu quarto. E mais uma vez senti o ímpeto de escrever... Pequei por não ter levantado na mesma hora e ter expresso minhas mais novas frustrações... perdi a inspiração que me veio no momento...

Peço agora (mesmo com vontade enorme de ir à praia e aproveitar as férias) que mais nimbus-cúmulus apareçam no céu, e lavem a alma de um autor simples, sem grandes pretensões, mas com grandes necessidades de falar ao mundo...
Reflita também...